quarta-feira, 19 de junho de 2013

Contact Gonzo - contato improvisação made in Japan




(Foto: internet)

De setembro de 2012 até meados de 2013, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MOMA) exibiu uma série de performances ao vivo no projeto Performing Histories: Live Artworks Examining the Past – uma pequena mostra de trabalhos envolvendo aspectos históricos do século 20, refletindo sobre a contemporaneidade e traçando perspectivas futuras. 

Minha estada na cidade coincidiu com as apresentações do contact Gonzo, de Osaka – um grupo de jovens que migraram da dança e contaminam suas improvisações com as técnicas de contato, com as artes visuais, a música, a internet, as artes marciais e a pesquisa de site-specific. “Baseado na força física e na agilidade, bem como nas relações de confiança dentro do grupo, o contact Gonzo equilibra elementos da dança contemporânea, da performance, e das culturas urbanas e popular.”, informa o cartaz da mostra.



(Foto: Adélia Nicolete)


O grupo teve início em 2006 com apenas dois componentes. Por seu interesse em atividades que envolvessem destreza, resistência e risco, já haviam, por exemplo, rolado de colinas e escalado escarpas, além de praticar futebol e pesquisar artes marciais de origens diversas.

Da mistura dessas experiências com o contato improvisação nasceu um tipo de performance que não propõe quaisquer narrativas ou sentidos, mas somente a ação em si., no momento em que acontece.

O nome Gonzo deriva justamente dessa característica. Esse termo ficou conhecido nos anos 1970 por designar um estilo jornalístico que abre mão da narrativa objetiva e distanciada. Nele, o texto, sempre em primeira pessoa, é mais o registro das impressões de seu autor ou um exercício literário que propriamente a reportagem dos fatos stricto sensu


(Foto: internet)


Embora se apresente em recintos fechados, como o saguão do MOMA, o grupo tem se destacado pela pesquisa extramuros, em especial em lugares de grande afluência de pessoas. Há quase sempre a delimitação de um espaço cênico, mas nada impede que o público o atravesse. Pode-se conversar, atender o telefone, entrar e sair, pois o grupo permanece absorvido numa espécie de jogo dramático. 

Objetos são atirados, água é jogada uns sobre os outros. Socos, pontapés, voadoras e golpes diversos visam aparentemente a eliminar o maior número de participantes, até que reste um último sobrevivente, afinal, a palavra gonzo é uma gíria irlandesa popular nos Estados Unidos qu designa o último homem a cair num concurso de bebedeira. No entanto, em momento algum o espectador é exposto ao risco. 



(Foto: internet)

Não existe uma preocupação em diferenciar cena e bastidores. Os participantes se aquecem às vistas do público, como se fossem disputar alguma partida; as roupas são comuns - “roupas de guerra”, como se costuma dizer em teatro. Os movimentos começam tranquilos, como se procurassem reconhecer o território ou perceber as intenções uns dos outros.

À medida que o jogo transcorre e as provocações mútuas se sucedem, somos surpreendidos pela destreza dos rapazes, sua força de ataque e sua capacidade de se desviar, de cair, de retornar à arena. Ficamos em dúvida se aquilo machuca, ou seja, criamos nós uma narrativa que envolve disputa, confronto, vencedores e perdedores. Tomamos partido, sentimos piedade, refletimos sobre a resistência à dor, sobre a gratuidade da violência, os jogos de poder e de força e assim por diante.



(Foto: internet)

O coletivo conta hoje com quatro a seis participantes. A interlocução com outros artistas tem sido um desafio para o grupo e, ao mesmo tempo, um modo de ampliar sua área de atuação. Há fotógrafos e videomakers, que registram as performances, permitindo não só a divulgação midiática do contact Gonzo como também a sua participação em catálogos, exposições e mostras. Músicos improvisadores “jogam” com os performers podendo, inclusive, arriscar-se a um contato mais concreto que não apenas sonoro.



(Foto: internet)


A apresentação a que assisti foi filmada com uma câmera fixa próxima ao solo, mas não contou com nenhuma trilha sonora. Além dos ruídos provocados pela própria performance - respiração dos atores, garrafa plástica de água caindo no chão ou sendo amassada, tapas, golpes, disparos de flash da câmera descartável usada em cena, quedas, escorregões -, ouvia-se apenas o som do museu em pleno funcionamento.

Curioso que senti muita falta de uma trilha específica ou mesmo improvisada. Tive a necessidade de imaginar alguns tipo de música durante a performance, talvez por achar que isso ajudaria a compor uma narrativa de tensão, de aventura, de desespero, ou uma atmosfera circense que fosse. 

Condicionamento difícil de ser eliminado esse da busca de sentido! Embora eu acredite que ele não precisa ser propriamente eliminado, é um exercício e tanto desvincular a fruição pura e simples da obra da construção emocional ou racional de uma narrativa.




(Foto: internet)


contact Gonzo tem se apresentado em várias partes do mundo, explorando locais inusitados. Já esteve no Rio de Janeiro, em um festival, e recebeu convites para interagir com a obra de Oscar Niemeyer, em Brasília.


O blog do grupo, em japonês, é:



Recomendo o acesso aos vídeos nos links abaixo:





Um entrevista com um dos fundadores do grupo encontra-se em:


O programa completo de exibições do MOMA, citado no início do texto pode ser visto em:



Finalmente, informações sobre o Gonzo Journalism, acessar:



Adélia Nicolete


2 comentários:

  1. Olá! que bacana heim? não conhecia e me parece haver uma seria ocupação com a corporeidade, mas mais que no físico, o que não está no físico, no momento do movimento, aquele impulso... algo na área. Me lembrou uma cena do "desaparecimento do elefante" o que não vejo, mas que está. Bom aprender com você !! beijos, Elaine

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  2. Penso que tem a ver a sua observação sobre o que não está no físico.
    Um dos componentes do grupo trouxe a proposta de investigação das "voadoras", por exemplo, aqueles saltos que traçam um trajeto no ar. Ou seja, é um movimento que inclui o espaço, a área total ocupada pelos performers.
    Obrigada pela contribuição contínua, querida.

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