quarta-feira, 10 de julho de 2013

GUTAI - arte japonesa do pós-guerra exposta no Museu Guggenheim




Motonaga Sadamasa - Água - Obra recriada pelo artista a pedido do Museu  Guggenheim.
(A obra original é de 1956, feita com tubos amarrados em pinheiros)
 Tubos de polietileno de diferentes larguras, contendo água colorida, sugerem  pinceladas gigantes que captam a luz do sol. 
(Foto: Adélia Nicolete)


Entre 15 de fevereiro e 8 de maio de 2013, o museu Guggenheim de Nova Iorque ofereceu a exposição especial Gutai: Splendid playground, apresentando diversas obras de um grupo de vanguarda pouco conhecido do grande público.

Fundada em 1954 pelos artistas plásticos Jiro Yoshihara, Akira Kanayma, Saburo Murakami Saburo, Kazuo Shiraga e Shozo Shimamoto, a Gutai Bijutsu Kyokai (Associação Artística Gutai) permaneceu ativa até 1972 em Ashiya, uma cidade cosmopolita próxima a Osaka, no Japão. Congregou cerca de 60 criadores ao longo de sua história, aliando performance, pintura, instalações e arte interativa. 




(Fotos: internet)

O nome "Gutai" pode ser traduzido literalmente por "concretude" e está intimamente ligado à exploração de materiais realizada por seus membros. No entanto, é possível traduzi-lo também como “incorporação” ou “personificação” - um modo de usar todo o corpo como ferramenta para a criação de uma obra.

O diálogo entre a arte tradicional japonesa - em especial a caligrafia, feita em papel de arroz e, necessariamente, rápida e espontânea - e o experimentalismo ocidental, rendeu ao grupo um tipo de ação que veio a se tornar precursor do happening e da arte conceitual, segundo alguns críticos.



(Fotos: internet)

Desde suas primeiras propostas, os artistas Gutai procuraram quebrar as barreiras entre a arte, o público comum e a vida cotidiana.
As instalações ao ar livre de 1955 e 1956, realizadas na praia e em um parque de pinheirais, definiram o cenário para as estratégias artísticas do grupo, trazendo a arte para fora dos espaços expositivos convencionais. 






Saburo Murakami - Laceration -  1956
(Fotos: internet)

A performance em que o artista se atira através de telas de papel esticado demonstra o desejo Gutai de “liberar o grito da própria matéria”. 
Algumas de suas obras combinavam a irreverência dadaísta e uma certa dose de automatismo a elementos próprios da arte japonesa: os gestos da pintura sumiê, as falhas aleatórias tão valorizadas na tradição cerâmica e a reverência para com os materiais (mesmo quando eles são aparentemente desprezados,
 como na "destruição" acima).




Kazuo Shiraga pintava prioritariamente com os pés. Suspenso por um balanço em algumas performances, evitava as habilidades convencionais das mãos.
(Foto: internet)



Atsuko Tanaka – Work (Yellow cloth) – 1955
(Foto: Adélia Nicolete)

Os trabalhos conceituais de Tanaka que exploram pedaços de tecido descartados, além de corresponderem a um dos itens do Manifesto Gutai (a beleza das ruínas e dos materiais em deterioração), ampliam os limites da pintura e redefinem a noção de beleza. No caso dessa obra, Tanaka respondeu ao desafio de criar um trabalho com as condições mínimas, o que resulta numa espécie de pintura monocromática.
A única interferência da artista encontra-se na colagem dos tecidos, estando ausentes quaisquer outras, inclusive a assinatura.







Atsuko Tanaka - Electric dress - 1956
(Fotos: internet)

Obra mais conhecida da artista, composta por lâmpadas e fios elétricos, foi criada para um grande evento do grupo em 1957.




O Gutai realizou um conjunto de pinturas gestuais ligadas ao movimento da action painting e, ainda inspirado por Jackson Pollock, aliou muitas de suas ações – em especial aquelas de cunho político – à ampla divulgação pela imprensa.
Suas iniciativas visavam a combater a passividade e o conformismo de grande parte da população. Alertar  para as condições que, décadas antes,  haviam permitido os desmandos do  governo militar.
(Foto: internet)

Durante todo seu período de atividades, o grupo assumiu novos desafios artísticos em relação ao corpo e sua ação direta com os materiais, o tempo, o espaço, a natureza e a tecnologia. Um de seus princípios era encarar a arte como um encontro vivencial sem mediação entre artista, gesto e material.
À sua maneira, os artistas desejavam ajudar a reconstruir a democracia, demonstrando e incentivando atos simbólicos de independência. Muitas vezes usavam o corpo todo nas pinturas ou convocavam os espectadores a interagir.
(Foto: internet)


Contra o pano de fundo da guerra e do totalitarismo, o Gutai forjou uma ética da liberdade criativa. Seus eventos estenderam-se ao teatro, à música e ao cinema, tendo influência marcante na arte de vanguarda japonesa e internacional.


Yoshihara escreveu o Manifesto Gutai em 1956. Ele pode ser visualizado em 


Adélia Nicolete


2 comentários:

  1. Adélia! que material rico não? Sinto falta disso, que foi tão forte nos 80's aqui no Brasil, essa coisa de Mater - corpo - mãe. Performatizar com objetivo. Com uma intenção. Este aspecto por vezes é muito mais forte que o resultado, que a obra! Como os parangolés do Oiticica ou das cores,sons, tintas e voz do Aguilar, enfim muito visto, muito aprendido, mas muito ainda por vir! Vida longa aos transeuntes da arte que rompem com a tradição.

    Saudações, Elaine

    ResponderExcluir
  2. Essa exposição foi emocionante. Havia algo de ingenuo em muitas das proposições. Eram como crianças descobrindo que podiam criar sozinhas. O fato de serem pioneiros num Japão tradicional potencializa suas iniciativas.
    E bem lembrados os nossos artistas, Elaine.
    Beijocas.

    ResponderExcluir